Mais de 500 condutores obrigados a ir ao psicólogo
01-10-2004 10:40
Lisete Reis
1ªMÃO: Laboratório de Psicologia da DGV analisa casos de automobilistas cadastrados com maus comportamentos ou muitos acidentes. Se resultado for negativo são impedidos de guiar
Há cada vez mais condutores que são obrigados a realizar exames de psicologia na Direcção Geral de Viação por apresentarem comportamentos anormais de agressividade ou por registarem demasiadas infracções graves ou muito graves, como o excesso de álcool por exemplo. Só este ano, desde Janeiro a Agosto, o Laboratório de Psicologia já analisou 427 automobilistas. No ano passado, passaram pelos gabinetes dos psicólogos 511 condutores.
«O caso de uma pessoa que não aceitou o chumbo no exame da carta de condução, deu um murro numa porta e partiu um vidro. Outra situação de um jovem que no fim do exame para carta de moto bateu com o capacete na cabeça do examinador», são exemplos dos condutores que passam por aquele departamento.
O street racer é outro perfil de condutores que chegam ao Laboratório de Psicologia da DGV. Aliás, com o aumento do número de corridas ilegais, também «tem aumentado o número de condutores de street racing enviados para exames», como confirmam ao PortugalDiário os responsáveis do departamento. «Casos compulsivos de maus comportamentos, com cadastro carregado ou envolvidos em acidentes graves» são outras situações encaminhadas para o Laboratório (ao abrigo do artigo 129º do Código da Estrada).
Nestes casos, as autoridades têm dúvidas sobre a aptidão «mental ou psicológica do condutor para exercer a condução com segurança».
No Laboratório de Psicologia, oito profissionais daquela área, submetem os automobilistas a uma série de testes cujos resultados determinam se têm, ou não, capacidade para continuarem a guiar viaturas. As provas variam consoante as anomalias verificadas. Mas, além dos exames a que são submetidos, os condutores passam ainda por uma consulta de psicologia que finaliza o processo de análise da aptidão dos indivíduos.
Nesta conversa, o condutor é confrontado com as infracções que constam do seu cadastro (o Registo Individual do Condutor), com os resultados das provas feitas anteriormente e, se for o caso, com a análise dos acidentes em que esteve envolvido.
O gabinete recebe também indivíduos que pretendem renovar ou tirar a carta pela primeira vez. Nestes casos, o delegado de saúde que os examinou poderá ter dúvidas sobre as capacidades psíquicas dos condutores ou candidatos a condutores e remete a decisão final para o Laboratório.
Nestas condições, foram pedidos pelas autoridades de saúde 435 exames durante o ano de 2003. No total, no ano passado, foram avaliadas as condições psicológicas de 511 condutores. Oito destes foram solicitados por tribunais.
O parecer emitido pelos psicólogos é vinculativo durante um ano, o que significa que, se o resultado for negativo, o condutor fica proibido de conduzir durante o ano seguinte. Mas se o condutor quiser, pode pedir para voltar a ser examinado no fim desse prazo. Consoante os casos, os psicólogos podem, independentemente do resultado da avaliação, solicitar a reexaminação de alguns condutores em prazos que podem variam de um a cinco anos.
Das 585 pessoas convocadas para serem examinadas, apenas 427 realizaram, de facto, as provas de psicologia desde o início deste ano. Os casos de condutores alcoólicos são dos mais frequentes. E há também muitos automobilistas examinados com mais de 65 anos, cuja renovação da carta exige a confirmação das condições físicas e mentais.
«Recentemente recebi um senhor com 91 anos, um professor de filosofia. Estava tudo bem, por isso demos parecer positivo», conclui uma das psicólogas do Laboratório. A provar que a idade não explica situações de má condução.